quarta-feira, 15 de junho de 2011

Conversa de maluco

Outro dia, eu fui ao hipermercado que fica dentro do shopping onde trabalho, para apurar vagas de emprego e passar para uma repórter que havia me solicitado tais informações.

Pedi a uma funcionária que chamasse o gerente. Ela perguntou quem eu era e qual seria o assunto.
Eu disse:

- Sou Assessor de Imprensa do shopping e quero falar com ele sobre vagas na loja.
Ela, então, pegou o microfone e anunciou:

- Atenção G8, compareça ao balcão de atendimento. O assessor da empresa do shopping o aguarda.
Eu ainda tentei consertar, mas ela disse que não poderia repetir.
Quando o gerente chegou, ela disse para ele:

- É esse 'senhor' aqui. Ele quer saber se temos vagas de estacionamento aqui na loja. Mas acho que não, né? Os clientes param os carros no estacionamento do shopping mesmo, não é?
O sujeito me olhou com uma cara de quem não estava entendendo nada, com a testa franzida, e me perguntou:

- Amigo, como assim? Cliente nenhum estaciona o carro dentro do supermercado.
Tive que me segurar para não cair na gargalhada. Expliquei tudo umas 3 vezes, até que - aparentemente - entendessem.
O gerente me levou para o RH e me apresentou a uma outra funcionária. Em seguida, ele disse para ela:

- Esse rapaz aqui é da Imprensa do shopping e está procurando vaga de emprego aqui.
A mulher me disse:

- Deixa o teu currículo comigo que, assim que tiver uma oportunidade, eu entro em contato.
Juro que eu quase saí correndo...
Expliquei pela quarta vez. Em seguida, o gerente - meio irritado - disse-me :

- Mas não foi isso que você me contou...
Enfim, saí de lá suado, cansado, com sede, mas com a informação de que eles têm 10 vagas de emprego. Quem sabe uma delas é para gerente e uma outra para atendente do balcão de atendimento???

Entre a cruz e a espada

Em janeiro de 2010, ao sair do estágio, por volta das 18h, percebi que iria chover muito. Julguei que voltar de trem seria melhor, por conta dos engarrafamentos que se formam na Avenida Brasil, aqui no Rio de Janeiro. E assim fiz.


Entrei na Central do Brasil em uma composição com destino a Bangu. No início, a viagem transcorreu dentro da normalidade, sempre com superlotação, mas sem alterações.


Mas a relativa tranquilidade estava perto de acabar. Na estação de Engenho de Dentro, o trem parou exatamente onde a calha do telhado da plataforma despejava a água da chuva. O pior é que foi dos dois lados da composição. Aquela água jorrou dentro do trem, pelas duas portas abertas, por quase intermináveis cinco minutos, tempo em que ficamos parados assistindo àquela cena absurda.


Mas, finalmente, o trem fechou as portas e partiu. No entanto, o problema não estava acabado. Toda aquela água que entrou passou a deslizar pelo chão do vagão conforme o balanço do trajeto. Era água para um lado e para outro, da frente para trás, sempre nos pés dos passageiros. O problema foi diminuindo conforme o trem abria as portas nas estações seguintes.


Depois da estação de Piedade, a composição parou. O maquinista anunciou que a via férrea estava alagada. Até aí, tudo bem. O problema é que o ar-condicionado só ventilava, não resfriava.


Com o tempo, o teto do “trem novo” não agüentou o volume de água da chuva. As goteiras se multiplicaram a ponto de fazerem levantar quem estava sentado. Além disso, mulheres grávidas, crianças e pessoas idosas começaram a passar mal dentro do vagão. O ambiente ficava cada vez mais quente e sem renovação de ar.


Ficamos ali, por cerca de uma hora, parados, sem comunicação com ninguém, até que o maquinista resolveu dar uma palavrinha com os passageiros:


- Estamos aguardando a água baixar. Não adianta se exaltar”, disse no alto-falante.


Alguns não tiveram dúvida. A polícia e o Corpo de Bombeiros foram acionados. Muita gente estava passando mal. O calor era insuportável. As janelas não abriam e o vagão não oferecia meio de comunicação com a cabine.


Depois de quase uma hora e meia, o maquinista resolveu voltar para a estação da Piedade e abrir as portas.


Entrei no primeiro trem que passou e desembarquei na estação de Marechal Hermes, que estava lotada de gente esperando a água da rua baixar.


Ainda peguei um ônibus em Marechal. Cheguei a minha casa por volta das 22h, completamente suado, cansado e com os pés molhados. Ao entrar na Internet, li a notícia de que as pessoas que haviam optado por voltar para casa pela Avenida Brasil tinham sofrido com os arrastões perto de comunidades.


No dia seguinte, tirei folga. Passei o dia pensando na melhor maneira de voltar para casa depois do estágio. De uma coisa eu tive certeza: tive que decidir se enfrentava a cruz ou a espada.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Uma parada para o canto

Minha avó morava em Bento Ribeiro, no subúrbio do Rio de Janeiro. Ainda era o tempo em que as portas e janelas das casas podiam ficar abertas até altas horas da noite. Os vizinhos se conheciam e passavam os fins de tarde nos portões "olhando as modas", como se dizia.

Uma das vizinhas de minha avó, Dna Neuza, criava um pássaro num viveiro bem grande e arredondado. O canto era estridente e se ouvia de longe, ainda mais naquela rua silenciosa. Parecia uma martelada em uma peça de ferro, uma seguida da outra.

O engraçado é que meu pai tinha um amigo que era soldador. O povo, numa inspiração incrível de criatividade, o chamava de "Solda". O Solda soldava meus velotróis, cujas peças de plástico meu pai insistia em substituir por outras de ferro, "para ficar mais resistente", dizia ele. Meus carrinhos mais pareciam Robocop's, metade plástico, metade ferro.

E, depois da solda, o Solda dava uma martelada na solda para saber se estava seguro mesmo. Dali íamos para a casa da minha avó, na rua de trás. Era só virar a esquina e ouvir aquele canto estridente, igualzinho à martelada do Solda nos meus carrinhos.

A diferença é que o canto era repetido, em intervalos de três segundos, mais ou menos. O bicho cantava durante um tempo e parava. De repente, recomeçava, mas com "marteladas" mais fortes e com intervalos maiores entre uma "martelada" e outra.

Aquela rua inteira se acostumou àquele som. De ponta a ponta, se ouvia diariamente as "marteladas" da Araponga.

Depois do almoço, minha avó e meu pai íam dormir. Eu ía para o quintal e ficava no muro da casa da Dna Neuza, ouvindo o passarinho cantar. Minha avó criava canários, mas eles não cantavam como aquele bicho. O canto da Araponga não era bonito, era marcante. E marcou.

Toda vez que eu ouvia aquele canto, falava pro meu pai: - Estamos chegando à casa da vovó. Era a referência, além da ladeira silenciosa das tardes de minha infância. Mas eu nunca soube que aquele pássaro era uma Araponga. Eu tinha sete anos.

Duas décadas depois, quando voltava da faculdade, ouvi o canto novamente e lembrei-me do passado. Meu pai foi quem me disse que aquele passarinho da Dna Neuza era uma Araponga. Nem precisei imitar o canto para ele saber que falávamos da mesma coisa. Ficou marcado nas nossas memórias.

Dna Neuza se mudou, antes mesmo da morte de minha avó.

O canto que ouvi há pouco tempo atualiza aquela época de uma forma que eu não sei explicar, desperta sensações que eu também não sei como ainda estão vivas na minha cabeça. O certo é que o canto da Araponga me trazia tranquilidade, paz, segurança e boas referências, aspectos que a vida nem sempre nos oferece.

Não sei que fim levou aquele canto de minha infância, só sei que ele continua ecoando no meu subconsciente como forma de dar intervalos à rotina ensurdecedora do cotidiano.

Viva a Araponga!!! rsrsrs