quarta-feira, 15 de junho de 2011

Entre a cruz e a espada

Em janeiro de 2010, ao sair do estágio, por volta das 18h, percebi que iria chover muito. Julguei que voltar de trem seria melhor, por conta dos engarrafamentos que se formam na Avenida Brasil, aqui no Rio de Janeiro. E assim fiz.


Entrei na Central do Brasil em uma composição com destino a Bangu. No início, a viagem transcorreu dentro da normalidade, sempre com superlotação, mas sem alterações.


Mas a relativa tranquilidade estava perto de acabar. Na estação de Engenho de Dentro, o trem parou exatamente onde a calha do telhado da plataforma despejava a água da chuva. O pior é que foi dos dois lados da composição. Aquela água jorrou dentro do trem, pelas duas portas abertas, por quase intermináveis cinco minutos, tempo em que ficamos parados assistindo àquela cena absurda.


Mas, finalmente, o trem fechou as portas e partiu. No entanto, o problema não estava acabado. Toda aquela água que entrou passou a deslizar pelo chão do vagão conforme o balanço do trajeto. Era água para um lado e para outro, da frente para trás, sempre nos pés dos passageiros. O problema foi diminuindo conforme o trem abria as portas nas estações seguintes.


Depois da estação de Piedade, a composição parou. O maquinista anunciou que a via férrea estava alagada. Até aí, tudo bem. O problema é que o ar-condicionado só ventilava, não resfriava.


Com o tempo, o teto do “trem novo” não agüentou o volume de água da chuva. As goteiras se multiplicaram a ponto de fazerem levantar quem estava sentado. Além disso, mulheres grávidas, crianças e pessoas idosas começaram a passar mal dentro do vagão. O ambiente ficava cada vez mais quente e sem renovação de ar.


Ficamos ali, por cerca de uma hora, parados, sem comunicação com ninguém, até que o maquinista resolveu dar uma palavrinha com os passageiros:


- Estamos aguardando a água baixar. Não adianta se exaltar”, disse no alto-falante.


Alguns não tiveram dúvida. A polícia e o Corpo de Bombeiros foram acionados. Muita gente estava passando mal. O calor era insuportável. As janelas não abriam e o vagão não oferecia meio de comunicação com a cabine.


Depois de quase uma hora e meia, o maquinista resolveu voltar para a estação da Piedade e abrir as portas.


Entrei no primeiro trem que passou e desembarquei na estação de Marechal Hermes, que estava lotada de gente esperando a água da rua baixar.


Ainda peguei um ônibus em Marechal. Cheguei a minha casa por volta das 22h, completamente suado, cansado e com os pés molhados. Ao entrar na Internet, li a notícia de que as pessoas que haviam optado por voltar para casa pela Avenida Brasil tinham sofrido com os arrastões perto de comunidades.


No dia seguinte, tirei folga. Passei o dia pensando na melhor maneira de voltar para casa depois do estágio. De uma coisa eu tive certeza: tive que decidir se enfrentava a cruz ou a espada.

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